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NAVEGUE PELO ACERVO DO CONSELHO DELIBERATIVO

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ENTREVISTA - Marcos Costa Lima é eleito diretor do Centro Internacional Celso Furtado
6 de Outubro de 2015
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O coordenador científico do Procondel, Marcos Costa Lima (Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco), foi eleito diretor do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento, em uma chapa composta pelo diretor-presidente reeleito Roberto Saturnino Braga e pelos diretores Gilberto Bercovici (Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo), Lígia Bahia (Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Pedro Cezar Dutra Fonseca (Departamento de Ciências Econômicas e Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Eles irão cumprir um mandato de três anos à frente da instituição. Costa Lima concedeu entrevista ao Procondel, onde falou sobre o trabalho da instituição, as perspectivas para o próximo triênio e a relação entre o Centro e o Nordeste.

PROCONDEL - Professor Marcos, como surgiu o Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento?

MARCOS COSTA LIMA - Em 2015, o Centro Celso Furtado comemora 10 anos de fundação. Ele foi criado pela iniciativa de alguns importantes economistas brasileiros, como Conceição Tavares, Luiz Gonzaga Belluzzo, Luciano Coutinho e Ricardo Bielschowsky, com o objetivo de estabelecer um pensamento sobre o desenvolvimento brasileiro e retomar alguns temas além da economia que são fundamentais para o país. Esse projeto foi levado ao então presidente Lula, que o acatou e permitiu que algumas instituições estatais apoiassem a existência da instituição. Atualmente, o Centro está localizado na sede do BNDES no Rio de Janeiro e possui um grande número de sócios pelo Brasil todo - professores e acadêmicos de renome -, e no exterior.

PROCONDEL - Quais são as principais atividades desenvolvidas pelo Centro?

MARCOS COSTA LIMA - O Centro promove seminários e congressos nacionais e internacionais, e também apoiamos a vinda de pesquisadores internacionais para o Brasil. Além disso, a instituição vem, desde sua criação, publicando um grande número de livros e artigos, bem como a revista Cadernos do Desenvolvimento, editada duas vezes por ano, além da tradução de obras fundamentais para o entendimento da questão do desenvolvimento, como as obras de Raúl Prebisch, Alexander Gerschenkron e Deepak Nayyar. No CICF funciona a Biblioteca Celso Furtado, cujo acervo pertenceu a seu patrono, organizada por sua viúva, a jornalista e presidente do Conselho Deliberativo do Centro, Rosa Freire d'Aguiar, e que completou 6 anos em 2015. A cada dois anos, o Centro realiza um Congresso Internacional. O último, realizado em 2014, recebeu mais de 800 inscrições de professores, estudantes e pesquisadores de todo o país. Outra atividade realizada pelo Centro é a realização de pequenos cursos sobre teoria do desenvolvimento em diversas universidades brasileiras, em parceria com o Ipea. É isso que faz a vitalidade do Centro: os seminários, as publicações, a vinda de professores de outros países...

PROCONDEL - O Centro acaba de lançar o livro "Brasil, Sociedade em Movimento", do qual o senhor participou como autor de um dos artigos. Do que trata a obra?

MARCOS COSTA LIMA - O livro juntou um grande número de pesquisadores brasileiros para refletir sobre questões muito amplas da vida nacional e, sobretudo, tentar entender os desafios que o Brasil está vivendo hoje. Temas como as metrópoles brasileiras, a desigualdade de renda, o consumo, a saúde, a educação, o passivo colonial, os programas de transferência de renda, a questão da convivência com a terra, a questão energética, o Nordeste brasileiro... Eu estou presente no livro com um artigo sobre a relação China-América Latina, analisando justamente as possibilidades, oportunidades e desafios que nós temos. Por exemplo, como podemos alterar o trade-off do Brasil com a China, porque nós estamos exportando cada vez mais commodities e importando produtos industrializados, o que pode estabelecer uma relação negativa para o Brasil a longo prazo. É um livro muito rico e muito atual sobre os desafios que nós temos à frente. A edição desse livro também está inserida nas comemorações dos 10 anos de criação do Centro Celso Furtado.

PROCONDEL - A relação entre Celso Furtado e o Nordeste vai muito além do simples fato de ele ter nascido na região. O desenvolvimento da região sempre foi uma preocupação dele, que culminou na própria criação da Sudene, da qual ele foi o primeiro superintendente. Como o Centro pretende aprofundar a relação com a região?

MARCOS COSTA LIMA - O Centro sempre se propôs a ter, inclusive pelo que representou Celso Furtado, uma participação nordestina bastante intensa. Inclusive, uma das minhas incumbências no Centro, primeiro como conselheiro e agora como diretor, é procurar desenvolver a instituição na região. Há também um núcleo na Universidade Federal do Ceará, com o professor Jair do Amaral. Em Alagoas, temos o professor Fábio Guedes Gomes, atual diretor da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal). Existe uma rede nordestina que estimula as discussões sobre os aspectos particulares da região. Nós temos inclusive conversado com o Procondel para tentar estabelecer no primeiro semestre de 2016 um encontro do Centro na região Nordeste para tratar de questões relacionadas ao desenvolvimento regional.

PROCONDEL - E quais são as propostas desta gestão para os próximos três anos?

MARCOS COSTA LIMA - Há uma programação que nós vamos estabelecer para 2016, 2017 e 2018, que será analisada pelo Conselho Deliberativo e nós esperamos que o Centro continue com essa vitalidade, visto que ele já se encontra consolidado em termos de respeitabilidade internacional. Já há no horizonte a realização da terceira edição do Congresso Internacional do Centro Celso Furtado, que deve ser realizado pela primeira vez fora do Rio de Janeiro, em Manaus, com o objetivo de discutir o desenvolvimento da região amazônica. Outras atividades deverão ter continuidade, como a publicação dos Cadernos do Desenvolvimento e a tradução e reedição de obras fundamentais para discutir a questão do desenvolvimento. Por exemplo, nós estamos pensando em traduzir pela primeira vez para o português a obra do economista chileno Fernando Fajnzylber, muito preocupado com o desenvolvimento e as questões ligadas à ciência e à tecnologia. A diretoria vai se empenhar também em retomar o oferecimento de bolsas de pesquisa, como já fizemos junto com o Banco do Nordeste, por exemplo. Uma das minhas preocupações dentro do Centro é a ampliação das nossas competências: como Celso Furtado é um pensador plural, cuja dimensão da obra vai muito além da economia, nós estamos trazendo para o Centro, pouco a pouco, antropólogos, sociólogos, cientistas políticos, geógrafos, o que é uma forma de ampliar um pouco a matriz de discussão dos problemas brasileiros.