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Tânia Bacelar concede entrevista ao Procondel
24 de Maio de 2016
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A equipe do Procondel conversou na manhã de hoje (24) no Recife (PE) com a economista e professora da UFPE, Tânia Bacelar de Araújo. Ela ingressou na Sudene em 1966 e foi servidora da autarquia por quase trinta anos, tendo participado da elaboração do IV Plano Diretor de Desenvolvimento Econômico e Social do Nordeste 1969-1973 e ocupado o cargo de Diretora de Planejamento Global entre 1985 e 1986. Mestra em Política e Programação do Desenvolvimento e doutora em Economia Pública, Planejamento e Organização do Espaço pela Universidade de Paris I, Panthéon-Sorbonne, Tânia integrou o Datar, Delegação Interministerial para o Ordenamento do Território e a Atratividade Regional, órgão vinculado ao gabinete do primeiro-ministro da França. Ela também foi coordenadora do grupo de trabalho de recriação da Sudene e da Sudam, em 2003. Na entrevista, Tânia falou sobre as diferentes fases da Sudene, sua carreira no serviço público e a situação atual da região Nordeste.
 
"No início, a Sudene investiu bastante na formação de técnicos, pois a região era carente de recursos humanos nas mais diversas áreas", lembra Tânia, que ingressou como estagiária e depois tornou-se economista da autarquia. A preocupação nessa época era dotar a região Nordeste de infraestrutura. "O Nordeste não tinha uma malha rodoviária. Fortaleza, que era uma capital importante, não tinha energia", recorda. Desse período inicial da autarquia, uma das características mais importantes que ela destaca era a interdisciplinaridade: "Numa mesma mesa de discussão, sentavam-se sociólogos, economistas, engenheiros... Nós aprendíamos cotidianamente".
 
Para Tânia, o golpe de 1964 não teve grande impacto nas ações da Sudene. Foi a edição do AI-5, em 1968, que provocou fortes mudanças no trabalho da autarquia: "Só permaneceu aquilo que se encaixava no projeto dos militares para o Brasil. Os incentivos fiscais ganharam força, enquanto as ações sociais, por exemplo, foram abandonadas". A política de incentivos a grandes empresas marcou a Sudene a partir da década de 1970 até sua extinção, em 2001. "Antes, a decisão de para onde iam os incentivos não era da Sudene. É só a partir da criação do Finor, em 1974, que isso acontece, e essa mudança faz com que a autarquia passe a ser alvo de disputas políticas", conta a economista.
 
Em 2003, foi convidada a coordenar o grupo de trabalho que discutiu a recriação da Sudene e da Sudam. "O modelo da Sudene de Celso Furtado foi importante para estruturar a região, mas é preciso um novo modelo de autarquia de desenvolvimento para repensar o Nordeste de hoje", afirma Tânia, para quem o órgão deve ter papel primordial na promoção da inovação tecnológica, no estímulo ao empreendedorismo ("O Sebrae tem origem no Núcleo de Assistência Industrial - NAI, criado pela Sudene", lembra), na reconfiguração territorial do Nordeste e na articulação dos governos estaduais para superar de forma conjunta os problemas comuns à região. 
 
A coleta de depoimentos de personalidades ligadas à história do Conselho Deliberativo e da Sudene é uma das atividades do Procondel. As entrevistas são editadas, transcritas e, posteriormente, irão compor um documentário sobre a memória do desenvolvimento nordestino, além de serem disponibilizadas no canal do projeto no YouTube.