“Eu não sou professor, eu sou um agitador”. Assim se define Francisco Maria Cavalcanti de Oliveira, sociólogo, professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) e autor de obras essenciais para o pensamento político e econômico brasileiro, em entrevista concedida ao Procondel em novembro de 2013. Nascido em 7 de novembro de 1933, no Recife, é no movimento estudantil que Francisco de Oliveira tem os primeiros contatos com a política: “eu fui um estudante comum na faculdade de Filosofia, que era muito ruim, porque todos os professores eram, na verdade, vindos do Direito, o que era muito comum nas ciências sociais”, conta Chico, que logo ingressa no partido socialista. “Ao dizer dos comunistas, que eram muito fortes no Recife, a gente era a ala feminina deles, e isso, eu prezo muito, porque me livrou do stalinismo, que era hegemônico, tanto na União Soviética como no pensamento e ação dos comunistas no mundo”, lembra.
Forma-se em Ciências Sociais em 1956 e trabalha no Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Banco do Nordeste. No fim de 1957, deixa o banco para assumir um cargo na recém-criada Comissão de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco. É onde toma conhecimento de um curso promovido pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) no Rio de Janeiro, com patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE). Lá conhece Celso Furtado, que mais tarde o convidaria a integrar a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste, no Recife. Com apenas 26 anos, é nomeado superintendente-adjunto da autarquia: “Eu não tinha trajetória nenhuma antes da Sudene. Cheguei lá como uma página em branco”, recorda. O pioneirismo da instituição representava um desafio a ser enfrentado pela equipe: “Não existia a experiência internacional. A mais próxima, mas não muito, era a experiência mexicana. Mas o México nunca teve uma experiência regional tão forte quando a Sudene. De modo que não havia muito o que copiar, tanto que a Sudene, no caso, foi sobrecarregada, ela virou uma espécie de Ministério do Nordeste”.
Com o golpe de 1964, é exonerado da Sudene junto com Celso Furtado e equipe e preso pelo regime militar. Ainda hoje carrega a frustração pelo fim violento da experiência pioneira de planejamento regional: “O Recife e a Sudene são uma chaga que não fecha”.
Parte para o Rio de Janeiro, sendo depois consultor da Cepal na Guatemala e no México. De volta ao Brasil, integra o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) como economista sênior, onde permanece por 25 anos, chegando ao cargo de presidente da instituição, e torna-se professor do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP).
Chico de Oliveira é responsável por obras essenciais para o pensamento desenvolvimentista e progressista no país, como “Elegia para uma Re(li)gião: Sudene, Nordeste, Planejamento e Conflito de Classes”, um estudo sobre as relações entre o Estado e a sociedade centrado no Nordeste brasileiro, publicado em 1977. Em “Crítica à Razão Dualista”, introduz a teoria de Trotsky do desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo para refletir sobre a situação do Nordeste. Na obra, defende que não é possível entender a região por uma ótica dualista, ou seja, da oposição entre o Centro-Sul desenvolvido e a periferia pobre. “Chico defende que a prosperidade e o atraso são interdependentes. O Nordeste fornece mão-de-obra barata e em troca, é um mercado consumidor para o Centro-Sul. Essa visão foi muito importante para o entendimento da dinâmica das regiões do Brasil”, explica o professor Marcos Costa Lima, coordenador científico do Procondel. Para ele, Francisco de Oliveira é um dos intelectuais mais consistentes e coerentes em sua trajetória, tanto na produção intelectual quanto no serviço público: “Chico nunca perdeu as raízes de um pensador oriundo do Nordeste brasileiro, e se mantém fiel às suas ideias, de lutar por um Brasil que consiga avançar distribuindo renda, que seja mais generoso com a classe trabalhadora”.
Clique aqui para assistir a entrevista concedida por Francisco de Oliveira aos coordenadores do Procondel Angela Nascimento e Marcos Costa Lima em novembro de 2013.