No ar desde abril de 2014, o site do Procondel Sudene registrou até o final de 2015 um total de 14.017 acessos, com 66.808 páginas visualizadas e acessos realizados a partir de 96 países e 1.203 cidades diferentes. Conversamos com o coordenador científico do Procondel Sudene, Marcos Costa Lima, e com a coordenadora executiva do projeto, Angela Nascimento, sobre as principais ações do projeto em 2015 e as perspectivas para os próximos meses da terceira etapa do Procondel, que se encerra em maio de 2016.
PROCONDEL - Como vocês avaliam o trabalho desenvolvido até agora na terceira etapa do Procondel?
ANGELA NASCIMENTO - Em 2015, já foram digitalizadas e disponibilizadas no site do projeto mais de mil imagens. Foram 67 volumes de pareceres, de 1971 a 1975. Também já foram digitalizados, embora ainda não estejam disponíveis, os relatórios de 1960 a 1980. A previsão é terminar a série documental até fevereiro e, nos três meses seguintes, digitalizar o máximo de volumes de pareceres possíveis até o encerramento desta etapa do projeto, em maio de 2016. A preservação e disponibilização do acervo são a espinha dorsal do projeto, mas o Procondel acabou se tornando muito maior do que nós esperávamos. Nós fomos além da digitalização: estamos discutindo e refletindo sobre o impacto das ações da instituição no passado, no presente e no futuro da região. Temos a produção de artigos e papers pelos bolsistas envolvidos no projeto, o que é muito importante porque, acima de tudo, o Procondel é um projeto de extensão. Isso permite que os alunos mergulhem no assunto, reflitam sobre ele e produzam conteúdo a partir disso, uma experiência que eles não teriam na sala de aula. Já estão sendo produzidos inclusive trabalhos de conclusão de curso baseados na documentação disponibilizada pelo Procondel. Nesse sentido, a atuação com a universidade é muito importante, porque estamos investindo na formação continuada de estudantes de diversas áreas do saber e na disseminação do acervo disponibilizado.
MARCOS COSTA LIMA: O Procondel tem esse papel de recuperar a história de uma instituição que foi essencial para o Nordeste e que, atualmente, possui uma escala de atuação muito menor. Tratar desse assunto é importante, porque ao mesmo tempo, estamos refletindo sobre a região Nordeste, que continua com indicadores muito aquém daqueles do Centro-Sul do Brasil. Quando a Sudene foi criada em 1959, o Nordeste representava 30% da população brasileira e tinha 13% do PIB. Atualmente, a região possui 28% da população brasileira e 13,5% do PIB. Então há uma disparidade muito grande que permanece. E a região enfrenta ainda hoje problemas históricos, como a seca. Até agora o estado brasileiro não foi capaz de desenvolver políticas que resolvessem o problema. Por isso, o Procondel, além de acompanhar a dimensão histórica de uma instituição, também está preocupado com as perspectivas para o Nordeste de hoje. Nesse sentido, além do trabalho do levantamento e da disponibilização do acervo do Conselho Deliberativo, que permite à opinião pública e aos pesquisadores conhecerem as ações do governo federal na região, existe uma outra preocupação do projeto, que é a de produzir artigos com nomes relevantes de diversas áreas de conhecimento para discutir e apontar caminhos para os problemas enfrentados pela região. Lançamos o primeiro volume do livro
"O Nordeste Brasileiro em Questão: Uma Agenda para Reflexão", que foi muito bem recebido, e agora estamos preparando o segundo, que tratará de temas importantes que não puderam ser abordados no primeiro.
PROCONDEL - O projeto tem realizado, em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco, pesquisas nas edições dos jornais Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio, disponíveis no acervo micrográfico da instituição. Qual o objetivo desse levantamento?
ANGELA NASCIMENTO - Já temos mais de 9 mil matérias catalogadas, que estão sendo incluídas em um banco de dados a ser disponibilizado para os pesquisadores. As mais interessantes estão sendo disponibilizadas na seção
Linha do Tempo do site, devidamente contextualizadas pela equipe de Ciência Política do projeto.
MARCOS COSTA LIMA - Uma coisa muito importante relacionada à pesquisa nos jornais é que isso aumenta bastante as possibilidades de busca dos pesquisadores interessados, porque há um leque de palavras-chave que envolvem temas como a questão regional do Nordeste e da América Latina, a pobreza, a fome e as políticas sociais e de desenvolvimento.
PROCONDEL - Quais foram as ações do projeto na área audiovisual?
ANGELA NASCIMENTO - Neste ano lançamos no canal do Procondel no YouTube uma
entrevista realizada por mim e por Marcos com Chico Oliveira, ex-superintendente adjunto da Sudene. Além disso, estivemos no Ceará e em Alagoas para coletar depoimentos com ex-membros do Conselho Deliberativo da Sudene. Demos início ainda ao projeto do Minuto Procondel, idealizado em 2014, e que consistirá numa série de interprogramas que irão falar das ações do projeto e da história do Nordeste a partir das ações da Sudene na região, a ser exibida em TVs públicas. Essas ações foram fortalecidas a partir da entrada no projeto do professor Fernando Weller, do Departamento de Comunicação Social da UFPE, junto com dois bolsistas do curso de Cinema e Audiovisual. Planejamos ainda para 2016 montar um projeto junto ao Banco do Nordeste do Brasil e outras instituições públicas para a produção de um documentário sobre a história da Sudene a partir do acervo do Conselho Deliberativo. O objetivo é utilizar o audiovisual como instrumento para levar as informações levantadas pelo projeto para o máximo de pessoas possível.
MARCOS COSTA LIMA - Outra ação muito relevante são as entrevistas que o nosso bolsista doutorando Jean de Mulder realizou em 2015 com o economista chileno vinculado à Cepal, Oswaldo Sunkel, que esteve no NE junto com Celso Furtado, e com o economista argentino e ex-ministro da Economia e Fazenda do país Aldo Ferrer. São ações importantes no sentido do alargamento da preocupação do projeto com a questão regional. Todas essas entrevistas estão sendo transcritas e serão disponibilizadas ao longo de 2016 no canal do Procondel no YouTube.
PROCONDEL - Desde o início do projeto, uma série de eventos foi realizada, tendo como destaques o Seminário Internacional e os Ciclos de Debates Sudene. Quais os principais eventos realizados pelo projeto em 2015?
ANGELA NASCIMENTO - Além disso, cumprimos nossa meta de interiorizar as ações do projeto, realizando a
terceira edição do Ciclo de Debates Sudene em Caruaru, pra discutir a produção vinculada ao Polo de Confecções do Agreste, incluindo os aspectos ambientais. Nós convidamos não só dirigentes e empresários, mas também agentes do estado para discutir esses temas, e recebemos um público grande de estudantes de Caruaru e de outras cidades do Agreste pernambucano, da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Planejamos agora para o início de 2016 a realização de um seminário em Delmiro Gouveia (Alagoas) para discutir questões vinculadas à energia e ao meio ambiente.
PROCONDEL - Como tem sido o reconhecimento do projeto por outras instituições?
ANGELA NASCIMENTO - O alcance do Procondel chamou atenção do Ministério da Integração Nacional, que desenvolveu um projeto para replicar a iniciativa na Sudeco e na Sudam, dentro de uma ação estratégica chamada de Memória do Desenvolvimento. Essa ideia começou em 2014, quando a então secretária de Desenvolvimento Regional Adriana Melo participou do Seminário Internacional realizado pelo Procondel e levou a proposta ao Ministério. Em 2015, fui contratada como consultora para elaborar o projeto de implantação da iniciativa nas duas autarquias.
MARCOS COSTA LIMA - O aprofundamento da articulação com o Centro Celso Furtado também foi muito importante, porque é uma instituição com a qual compartilhamos a preocupação com as questões regionais, especialmente do Nordeste. Uma consequência disso foi a eleição por unanimidade de Angela Nascimento para o quadro de sócios da instituição. Também é importante frisar que a Sudene foi uma instituição de grande relevo. Na academia, quando nós discutimos a questão regional, sobretudo no pós-guerra, ela é considerada um dos projetos mais arrojados já feitos em escala internacional. Vários intelectuais de fora do Brasil chamam a atenção para o pioneirismo e para a envergadura da Sudene. Inclusive, o site tem recebido muita demanda internacional. Nós monitoramos o site e temos pessoas de várias partes do mundo querendo conhecer o acervo disponibilizado. Mas o conhecimento do passado traz junto a preocupação com o presente e o futuro. Até por isso, a pergunta que não quer calar é: qual é o projeto para o Nordeste hoje? Como podemos superar essas desigualdades que teimam em permanecer?